" quando te escavaram o ventre encontraram traços adormecidos doutros povos 
enigmáticos colares, pérolas corroídas, aços imutáveis, escritas duma outra idade, vestígios de insones navegações 
da terra sobe um murmúrio de húmido coração 
os vermes vão tecendo a recordação dos mortos para que possamos sobreviver ao estrondo da pólvora e da dinamite 
as máquinas quase destruíram as torres de uma cidade imaginada, submersa, inacessível, que eu suspeito ter sido construida com vento-suão 
mas, é o negro ouro que atravessa os teus metálicos intestinos
com eles vais refinando a morte das aves e esquecendo a vida dos peixes 
digo, das águas enfurecidas irromperá o desastre 
se por qualquer razão te esfaquearem de novo, nada mais encontrarão que pequeníssimos cadáveres de saudade 
ouço o resfolegar de remorsos náufragos...lembro-me das pedras mortas dos teus pulsos 
o peito rasga-se-me, uma lata de óleo trabalha o sangue 
no céu terei sempre um pedaço de lua de açucar, e uma estrela para iluminar teu rosto árabe antigo 
MAR-DE-LEVA 
in Degredo no sul , poeta Al Berto 
 
Encontrei-o numa prateleira meio abandonado, não o conhecia, não me lembro de ter ouvido falar nele antes. Acho que foi a fotografia da capa que me chamou a atenção, e o nome: degredo no  sul - ao sul vai-se em busca da festa do verão, da liberdade das férias, não de um degredo. Impressionou-me o sentimento com que imaginava o que vivia. Tanto que quase me deixa sem palavras, porque só as suas já chegam para descrever tudo o que um ser humano vê, sente e imagina . Tudo o que vive sentindo ou imagina que sente, vivendo. Impressionante e imprescíndivel. 
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