domingo, 10 de julho de 2011

Degredo no sul

" quando te escavaram o ventre encontraram traços adormecidos doutros povos
enigmáticos colares, pérolas corroídas, aços imutáveis, escritas duma outra idade, vestígios de insones navegações

da terra sobe um murmúrio de húmido coração
os vermes vão tecendo a recordação dos mortos para que possamos sobreviver ao estrondo da pólvora e da dinamite
as máquinas quase destruíram as torres de uma cidade imaginada, submersa, inacessível, que eu suspeito ter sido construida com vento-suão
mas, é o negro ouro que atravessa os teus metálicos intestinos
com eles vais refinando a morte das aves e esquecendo a vida dos peixes
digo, das águas enfurecidas irromperá o desastre

se por qualquer razão te esfaquearem de novo, nada mais encontrarão que pequeníssimos cadáveres de saudade
ouço o resfolegar de remorsos náufragos...lembro-me das pedras mortas dos teus pulsos
o peito rasga-se-me, uma lata de óleo trabalha o sangue

no céu terei sempre um pedaço de lua de açucar, e uma estrela para iluminar teu rosto árabe antigo


MAR-DE-LEVA
in Degredo no sul , poeta Al Berto


Encontrei-o numa prateleira meio abandonado, não o conhecia, não me lembro de ter ouvido falar nele antes. Acho que foi a fotografia da capa que me chamou a atenção, e o nome: degredo no sul - ao sul vai-se em busca da festa do verão, da liberdade das férias, não de um degredo. Impressionou-me o sentimento com que imaginava o que vivia. Tanto que quase me deixa sem palavras, porque só as suas já chegam para descrever tudo o que um ser humano vê, sente e imagina . Tudo o que vive sentindo ou imagina que sente, vivendo. Impressionante e imprescíndivel.

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